Apenas um trecho do seu livro: Uma vida cheia do Espírito
Poder do Alto
Peço vênia
para, através desta coluna, corrigir a impressão errônea recebida
por alguns dos participantes do recente Concílio em Oberlin, do
breve comentário que lhes fiz na manhã do sábado e, depois, no
domingo. Na primeira dessas ocasiões, chamei a atenção dos
presentes para a missão da Igreja, de fazer discípulos de todas as
nações, de acordo com o registro de Mateus e de Lucas. Afirmei que
essa incumbência foi dada por Cristo a toda a Igreja, da qual cada
membro está na obrigação de fazer da conversão do mundo o
trabalho a que dedique a sua vida. Levantei então duas questões: 1)
de que necessitamos, para conseguir sucesso nessa obra imensa? 2)
Como podemos obtê-lo?
Resposta -- 1.
Precisamos ser revestidos de poder do alto. Cristo anteriormente
informara aos discípulos que, sem ele, nada podiam fazer. Quando os
encarregou da conversão do mundo, acrescentou: "Permanecei,
porém, na cidade (Jerusalém), até que do alto sejais revestidos de
poder. Sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois
destes dias. Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai".
Esse batismo do Espírito Santo, a promessa do Pai, esse revestimento
do poder do alto, Cristo informou-nos expressamente ser a condição
indispensável para a realização da obra de que ele nos incumbiu.
2. Como havemos de
obtê-lo? Cristo prometeu-o expressamente, a toda a Igreja e a cada
pessoa cujo dever é trabalhar para conversão do mundo. Ele
admoestou os primeiros discípulos a que não pusessem mãos à obra
enquanto não recebessem esse revestimento de poder do alto. Tanto a
promessa como a admoestação têm igual aplicação a todos os
cristãos de todos os tempos e povos. Ninguém, em tempo algum, tem o
direito de esperar bom êxito, se não obtiver primeiro o poder do
alto. O exemplo dos primeiros discípulos ensina-nos como obter esse
revestimento. Primeiramente consagraram-se a esse trabalho,
continuando em oração e súplicas até que, no dia de Pentecoste, o
Espírito Santo veio sobre eles e receberam o prometido revestimento
do poder do alto. Eis, portanto, a maneira de obtê-lo.
O Concílio pediu-me
que dissesse mais sobre o assunto, razão pela qual, no domingo,
tomei por texto a declaração de Cristo, de que o Pai está mais
pronto a dar o Espírito Santo àqueles que lho pedirem, do que nós
a darmos boas dádivas a nossos filhos. Disse a eles:
1. Este texto
informa-nos que é sumamente fácil obter-se o Espírito Santo, ou
seja, esse revestimento de poder da parte do Pai.
2. Isso se torna
assunto constante de oração: todos o pedem, em todas as ocasiões;
entretanto, à vista de tanta intercessão, é relativamente pequeno
o número daqueles que, efetivamente, são revestidos desse Espírito
do poder do alto! A lacuna não é preenchida: a falta de poder é
assunto de constante reclamação. Cristo diz: "Todo o que pede
recebe", porém não há negar que existe um "grande
abismo" entre o pedir e o receber, o que representa pedra de
tropeço para muitos. Como, então, se explica essa discrepância?
Tratei de mostrar
por que muitas vezes não se recebe o revestimento. Eu disse a eles:
1) De modo geral, não estamos dispostos a ter aquilo que desejamos e
pedimos: 2) Deus nos informa expressamente que, se contemplarmos a
iniqüidade no coração, ele não nos ouvirá. Muitas vezes, porém,
quem pede é complacente consigo mesmo; isso é iniqüidade, e Deus
não o ouve; 3) é descaridoso; 4) é severo em seus julgamentos; 5)
é auto-dependente; 6) repele a convicção de pecado; 7) recusa-se a
fazer confissão a todas partes envolvidas; 8) recusa-se a fazer
restituição às partes prejudicadas; 9) é cheio de preconceitos
insinceros; 10) é ressentido; 11) tem espírito de vingança; 12)
tem ambição mundana; 13) comprometeu-se em algum ponto e não quer
dar o braço a torcer, ignora e rejeita maiores esclarecimentos; 14)
defende indevidamente os interesses de sua denominação; 15) defende
indevidamente os interesses da sua própria congregação; 16)
resiste aos ensinos do Espírito Santo; 17) entristece o Espírito
Santo com dissenção; 18) extingue o Espírito pela persistência em
justificar o mal; 19) entristece-o pela falta de vigilância; 20)
resiste-lhe dando largas ao mau gênio; 21) é incorreto nos
negócios; 22) é impaciente para esperar no Senhor; 23) é egoísta
de muitas formas; 24) é negligente na vida material, no estudo, na
oração; 25) envolve-se demasiadamente com a vida material, e os
estudos, faltando-lhe por isso tempo para oração; 26) não se
consagra integralmente, e --27) o último e maior motivo, é a
incredulidade: pede o revestimento, sem real esperança de recebê-lo.
"Quem em Deus não crê, mentiroso o faz." Esse, então, é
o maior pecado de todos. Que insulto, que blasfêmia, acusar a Deus
de mentir!
Fui obrigado a
concluir que, nesses e noutros pecados é que se encontra a razão de
se receber tão pouco quando tanto se pede. Falei que não havia
tempo para apresentar o outro lado da questão. Alguns dos irmãos
perguntaram depois: "Qual é o outro lado?" O outro lado
apresenta a certeza de que receberemos o prometido revestimento de
poder do alto e seremos bem-sucedidos em ganhar almas, desde que
peçamos e cumpramos as condições, claramente reveladas. da oração
vitoriosa. Observe-se que o que eu disse no domingo versava sobre o
mesmo assunto do dia anterior e era um aditamento a ele.
O mal-entendido a
que fiz alusão foi o seguinte: se primeiro nos desfizermos de todos
esses pecados que nos impedem de receber o revestimento, não
estaremos já de posse da bênção? De que mais precisamos?
Resposta: há grande
diferença entre a paz e o poder do Espírito Santo na alma. Os
Discípulos eram cristãos antes do dia de Pentecoste e, como tais,
possuíam certa medida do Espírito Santo. Forçosamente, tinham a
paz resultante do perdão dos pecados e do estado de justificação,
porém ainda não tinham o revestimento de poder necessário para
desempenharem a obra que lhes fora atribuída. Tinham a paz que
Cristo lhes dera, mas não o poder que lhes prometera. Isso pode se
dar com todos os cristãos, e, a meu ver, está exatamente aí o
grande erro da Igreja e do ministério: descansam na conversão e não
buscam até obter esse revestimento de poder do alto.
Resulta que tantos
que professam a fé não têm poder nem com Deus nem com o homem. Não
são vitoriosos, nem com um nem com o outro. Agarram-se a uma
esperança em Cristo, chegando mesmo a ingressar no ministério, mas
deixam de parte a admoestação a que esperem até que sejam
revestidos do poder do alto. Mas, traga alguém todos os dízimos e
todas as ofertas ao tesouro de Deus; deponha tudo sobre o altar,
nisso prove a Deus, e verificará que Deus "abrirá as janelas
do céu e derramará uma bênção tal que dela lhe advenha a maior
abastança".