O
santo tem de andar só - A. W. Tozer
A
solidão do cristão resulta do fato de ele andar com Deus num mundo que não quer
nada com Deus, um andar que o leva forçosamente para longe do companheirismo do
mundo não regenerado. Seus instintos, recebidos de Deus, clamam pela companhia
dos outros da sua espécie, outros que possam entender os seus anseios, as suas aspirações,
a sua absorção no amor de Cristo; e porque em seu círculo de amigos há tão
poucos que compartem suas experiências interiores, ele é forçado a andar só. O
homem que chegou à Presença Divina numa real experiência interior não
encontrará muitos que o entendam.
O
homem verdadeiramente espiritual é na verdade esquisito. Ele não vive para si,
mas, para promover os interesses do outro. Procura persuadir o povo a dar tudo
ao Senhor, e não pede nenhuma parte, nenhuma porção para si mesmo. Deleita-se
em não receber honra, mas em ver o seu Salvador glorificado aos olhos dos
homens.
Sua
alegria é ver o seu Senhor ser o objeto de promoção e ele próprio ser
esquecido. Encontra poucos que cuidam de falar daquilo que constitui o supremo
objeto do seu interesse, pelo que muitas vezes fica em silêncio e preocupado no
meio do ruidoso bate-papo religioso. Por isso ele ganha a reputação de ser
maçante e sério demais, e assim é evitado, e o abismo entre ele e a sociedade
se alarga. Procura amigos em cujas vidas possa detectar o mais profundo desejo
de santidade diante do Senhor, e encontrando poucos, ou nenhum, guarda isto em
seu coração.
É
esta verdadeira solidão que o lança de volta a Deus. “Se meu pai e minha mãe me
desampararem, o Senhor me acolherá” (Sl 27:10). Sua impossibilidade de
encontrar companheirismo humano leva-o a encontrar em Deus o que não consegue
em nenhuma parte. Na solidão interior aprende o que não poderia aprender em
meio à multidão – que Cristo é tudo em todos, que Ele foi feito para nós
sabedoria, justiça, santificação e redenção, que Nele temos e possuímos o
Grande Tesouro da Vida, Cristo em nós a esperança da Glória (Col. 1:26).
A
fraqueza de tantos cristãos modernos consiste em que se sentem demasiamente à
vontade no mundo. Em seu esforço para conseguir repousante “ajustamento” à
sociedade não regenerada, perderam seu caráter de peregrinos e se tornaram
parte essencial da mesma ordem moral contra o qual fomos enviados a protestar.
O mundo os reconhece e os aceita pelo que eles são. E esta é a coisa mais
triste que se pode dizer deles. Não são solitários, mas também não são santos.
Os
mais puros santos, são aqueles dos quais, muitas vezes, a ruidosa igreja menos
ouve. A vida piedosa não é mais considerada importante, a não ser quanto aos
muito velhos ou aos mais que mortos. As almas pias são abafadas no turbilhão
das atividades religiosas. Os ruidosos e auto-afirmativos, os divertidos são
procurados e recompensados de todos os modos, com presentes, multidões,
oferendas e publicidade. Os que se assemelham a Cristo, os que se esquecem de
si mesmos, os que vivem como se já estivessem no mundo por vir são empurrados para
um lado para darem lugar ao último farrista convertido, geralmente não
convertido muito bem e tendo muito ainda de farrista. Toda filosofia de vista
curta, que ignora as qualidades eternas e dá valor as trivialidades, é uma
forma de incredulidade. Os “cristãos” que encarnam essa filosofia anseiam pela
recompensa atual; são impacientes demais para esperar o tempo do Senhor. Não
subsistirão no dia em que Cristo fizer conhecido o segredo do coração de todos
os homens e recompensar cada um de acordo com as suas obras. O verdadeiro santo
enxerga mais de longe, dá pouca importância aos valores transitórios; com os
olhos postos no futuro, aguarda anelante o dia em que as realidades eternas
virão aos que lhes fazem jus, e se verá que a vida santa é tudo que importa.
Estranho
quanto for, as almas mais santas que já viveram ganharam a reputação de
pessimistas.
Sua
sorridente indiferença para com as atrações do mundo e sua firme resistência às
tentações que elas exercem têm sido mal compreendidas por pensadores
superficiais e atribuídas a um espírito anti-social e à falta de amor à
humanidade.
O
que o mundo não foi capaz de ver é que esses homens contemplavam uma cidade
invisível, andavam dia a dia a luz de outro reino, de um reino eterno.
O
cristão sábio contentar-se-á em esperar por esse dia. No dia a dia, servirá a
sua geração, segundo a vontade de Deus. Se ele for deixado de lado nas lutas
por popularidade religiosa, dará a isto atenção mínima. Ele sabe a QUEM está
procurando agradar e está disposto a deixar que o mundo pense dele o que quiser.
De qualquer forma não estará aqui por muito tempo, e para onde ele vai, os
homens não serão reconhecidos pelos valores que o mundo aprecia.
Autor:
A.W. Tozer
Fonte: Site
Rei Eterno
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